Cenas do Brasil escravocrata. 2) Prisioneiros do campo de concentração nazista de Mauthausen libertados em 5-05-45. 3) Devastação da Faixa de Gaza por Israel. Fotos Arquivo Nacional, Wikimedia Commons e Unicef.
Desde que
a história dos seres humanos começou a ser retratada com base em estudos
amparados em dados confiáveis, as classes dominantes de origem europeia vêm
despontando como o que de mais sórdido e nefasto a humanidade já gerou. Não
pretendo de modo algum dar a entender que as elites de poder dos povos não
ocidentais se caracterizam por sua pureza e bondade. Esta, absolutamente, não é
minha intenção.
O que
estou procurando destacar é o insuperável nível de crueldade e insensibilidade
daqueles que têm estado no comando das rédeas das nações de extração europeia,
em contraposição ao que ocorre em todos os demais grupos humanos. Inegavelmente,
em todas as oportunidades em que forças vindas de outras partes avançaram sobre
regiões já habitadas por outros grupos humanos, os resultados sempre foram de
fortes sofrimentos para os povos subjugados.
Contudo,
as desgraças provocadas pela expansão ocidental ao redor do planeta ultrapassam
em muito toda a perversidade que temos conhecimento de ter sido praticada ao
longo da história. Tão
somente com um breve repasso da presença usurpadora das forças do Império
Romano naquele lugar que hoje denominamos de Oriente Médio, ficam evidentes as
marcas deste desrespeito ao direito de os povos continuarem vivendo nos
territórios que tradicionalmente já ocupam há muito tempo.
Estamos
nos referindo exatamente àquela região associada à figura de Jesus, cujos nome
e simbolismo costumamos respeitar e valorizar. Por que
as legiões de um Império sediado na Europa Ocidental deveriam comandar os
destinos de terras localizadas em outro continente e habitadas por povos que
nada tinham de europeus? A
resposta a esta indagação nos remete aos primórdios do conceito que atualmente
designamos como colonialismo. Assim, a grosso modo, podemos estabelecer nesta
etapa os marcos iniciais do expansionismo europeu, que nos afeta negativamente
até os dias atuais.
Convém
recordar que, para exercer seu domínio sobre aquelas pessoas que nada tinham a
ver com a etnia e a cultura romanas, as forças colonialistas se aliaram aos
setores das classes dominantes locais. Estas, por sua vez, recorriam à
manipulação da religião para garantir a manutenção de seus privilégios. Devemos
ter sempre em conta que as práticas de Jesus representavam uma luta ferrenha em
favor das classes mais humildes, com o propósito de ajudá-las a sair do estado
de penúria em que eram forçadas a viver.
Assim, é
também de muita relevância que não nos esqueçamos do fato de que ele foi preso
e executado por soldados ocupantes romanos por orientação dos líderes
religiosos locais de então. Isto
explica a razão pela qual a adesão a suas pregações tenha surgido e se
desenvolvido inicialmente entre as massas de gente humilde, e não entre as
camadas ricas e poderosas. Por
então, seus seguidores tinham de se reunir às escondidas, para fugir das
perseguições das autoridades romanas e dos líderes do judaísmo oficial. A partir
das experiências desenvolvidas nessa etapa inicial, as classes dominantes
romanas aprimoraram sua destreza em manipular os conceitos e as palavras para,
desta maneira, usá-los em favor de suas ambições e seu egoísmo.
Tanto
assim que foram capazes de se apoderar do legado de Jesus, de modo a
atribuir-lhe um significado diametralmente oposto ao de seus propósitos
originais. Como já
expusemos mais acima, a pregação do Nazareno se caracterizava por seu desejo de
defender as causas dos setores sociais mais carentes e explorados. Entretanto,
os representantes dos interesses imperiais e colonialistas das classes
dominantes ocidentais se dedicaram a falsificá-lo e deturpá-lo com o objetivo
de torná-lo um poderoso instrumento para reforçar sua hegemonia sobre as massas
populares e para facilitar sua devastadora expansão sobre todas as demais
nações de todos os outros continentes. Foi assim
que, apesar de que seu intuito original era atender e socorrer os mais
necessitados, a figura de Jesus foi alvo de um monstruoso processo de
manipulação.
Com isto,
produziu-se uma completa metamorfose, da qual surgiu uma ideologia
político-religiosa que desempenharia um papel fundamental na expansão do
colonialismo europeu: o cristianismo. Desta
forma, o cristianismo se tornou uma portentosa arma destinada a subjugar e
exterminar povos e nações ao redor do mundo, com vista a fazer prevalecer os
interesses materiais do colonialismo ocidental. Portanto,
é muito importante que tenhamos em mente que essa religião, criada e
impulsionada pelas classes dominantes ocidentais, nada tem a ver com aquele de
cujo nome ela se aproveita. Na
verdade, o que se consolidou desde sua elevação à categoria de religião oficial
do Império não foram as pregações e os ensinamentos daquele que perambulava
entre os setores populares da Palestina de seu tempo, senão que sua
desvirtuação completa, com a perda das bases humanitárias que lhe serviam de
sustentação.
Foi com
base nesta ideologia inteiramente contrária ao legado de Jesus, mas recorrendo
fraudulentamente a seu nome, que as classes dominantes ocidentais se lançaram à
empreitada que veio a representar o maior morticínio já causado entre os seres
humanos por outros seres humanos. Em
decorrência, nas Américas, na África, na Ásia e na Oceania, as classes
dominantes da Europa Ocidental assassinaram milhões e milhões de pessoas,
exterminando quase que por completo inúmeros povos, nações e culturas, em
genocídios de proporções inimagináveis. Embora a
presença do flagelo da escravidão possa ser detectada em várias situações há
muito tempo, tão somente as classes dominantes europeias a transformaram num
modo de produção aplicado de forma generalizada para fins de obtenção regular
de lucros comerciais.
Decididamente,
a estruturação da economia com base no trabalho escravo é mais uma das criações
desses que gostam de se apresentar como o símbolo do melhor da humanidade. No
entanto, a perversidade das classes dominantes do chamado mundo ocidental
estava longe de se haver esgotado após a consecução dos abomináveis crimes de
genocídio levados a cabo nessa fase em que predominaram o colonialismo e a
escravidão. Ainda havia muito ódio e ignomínia a demonstrar. E as
classes dominantes de extração europeia se esmeraram para provar que eram
capazes de se superarem, como de fato o fizeram. Entre as outras obras primas
das classes dominantes ocidentais de origem europeia podemos citar o apartheid,
o nazismo e o sionismo.
Fotos: Reprodução do perfil @soupalestina
O apartheid,
que desgraçou a vida de milhões de africanos, foi levado à África por
iniciativa das classes dominantes holandesas. Em seu afã de se apropriar das
riquezas do continente africano e abusar da exploração da mão de obra de seus
habitantes autóctones, os colonizadores europeus edificaram um dos sistemas
mais horripilantes de discriminação de cunho racial. Foram
necessárias várias décadas de luta e sofrimento para que esse produto da
maldade pudesse ser derrubado. Mesmo assim, seus efeitos maléficos se estendem
até nossos dias. Já o
nazismo é um genuíno fruto dos que gostam de ser tomados como o suprassumo da
civilização europeia e, devido a isto, de toda a humanidade: as classes
dominantes germânicas.
Com o
nazismo, os grandes capitalistas alemães e de várias outras nações europeias
deixaram evidente que não há limites para a prática de atrocidades contra
outros seres humanos. No
intuito de combater os possíveis riscos para a manutenção de seu domínio
social, os paladinos da defesa dos interesses do grande capital na Alemanha e
em outros países da Europa não hesitaram em desenvolver as técnicas para causar
a morte e o sofrimento em escala industrial.
Os campos
de concentração e os fornos da morte do nazismo também foram gerados por
mentores das classes dominantes ocidentais de pura cepa europeia. E, quase
que como uma síntese cumulativa de todas as perversões gestadas por iniciativa
das classes dominantes europeias, temos atualmente o sionismo. Esta ideologia a
serviço do grande capital também é cem por cento de origem europeia, sem ter
absolutamente nada a ver com os antigos povos hebraicos que habitavam a região
do Oriente Médio no passado.
O
sionismo é algo equivalente ao nazismo, com a diferença básica de ter sido
propulsionado por ideólogos europeus com vinculações pretéritas a gente que
professava o judaísmo. O
sionismo incorpora em sua essência o espírito do colonialismo, do apartheid e,
em consequência, do nazismo. Suas
maiores vítimas diretas são os povos que já habitavam a região da Palestina há
milênios, os quais têm sofrido um intenso processo de perseguição, usurpação e
extermínio, que visa instalar em suas terras os colonos europeus e seus
descendentes, que foram para lá conduzidos pelos movimentos sionistas formados
na Europa.
A
crueldade praticada contra a indefesa população palestina pelas forças
militares e paramilitares a serviço do sionismo europeu não deixa margem para
dúvidas de que os sionistas assimilaram à plenitude a podridão produzida pelas
classes dominantes ocidentais ao longo dos séculos. Porém, é
muito importante que não nos deixemos levar por uma falsa percepção. Os grandes
inimigos da humanidade não são os povos europeus, e sim suas classes
dominantes.
As massas
populares dos países da Europa são, na verdade, importantes aliados de suas
contrapartes dos países periféricos. Os movimentos e partidos dos trabalhadores
europeus, assim como seus teóricos, deram contribuições inestimáveis em favor
dos processos de emancipação das classes trabalhadoras do mundo inteiro. Com
eles, aprendemos a valorizar o sentimento do internacionalismo proletário e a
busca pela unidade dos povos. Por isso,
é muito gratificante constatar que as lutas dos povos vítimas do colonialismo e
imperialismo originados nos centros oligarcas do Ocidente têm contado com o
apoio resoluto de movimentos de massas populares nos países europeus, assim
como nos Estados Unidos. Isto se mostra ainda mais evidente nos cruciais
momentos que estamos atravessando.
Em
protesto contra o genocídio que as forças armadas do sionista Estado de Israel
estão cometendo contra o povo palestino, estão ocorrendo amplas mobilizações de
massas nas principais cidades da Europa. E ainda
mais reconfortante é constatar uma nutrida e intensa participação nas mesmas de
pessoas de ascendência judaica, o que ajuda a corroborar a compreensão de que
judaísmo e sionismo não são para nada equivalentes. Para que
não subsista nenhuma incompreensão, ser judeu e ser sionista são coisas muito
diferentes.
Assim
como não podemos estender a pecha de nazista ao conjunto dos alemães, o termo
sionista não pode de maneira nenhuma ser empregado para designar a todos os que
se identificam como judeus. Em
resumo, tudo o que expusemos nas linhas anteriores tem por objetivo ressaltar a
compreensão de que todos os povos do mundo podem e devem viver em solidariedade
e harmonia. Os
verdadeiros responsáveis pelas guerras e outras desavenças entre os grupos
humanos costumam ser suas classes dominantes, ou seja, aqueles setores que
vivem à custa da exploração do trabalho dos restantes.
Dentre os
exploradores, os que mais têm se destacado negativamente ao longo do tempo são
as oligarquias formadas nas nações ocidentais. Embora
estas pretendam atribuir-se a qualificação de modelo exemplar a ser seguido por
todas as demais, representam de fato a podridão maior já atingida pela
humanidade.
Autor:
Jair de Souza – é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também
pela UFRJ. Publicado no Site VioMundo.